História de Chico Chavier

No dia que a seleção brasileira venceu sua quinta Copa do Mundo, um dos líderes religiosos mais famosos do país, Chico Xavier, morreu aos 92 anos de problemas cardíacos. Xavier profetizou que ele morreria em um “dia de celebração”, para que o imenso sofrimento fosse diminuído pela felicidade nacional.

Sua previsão havia sido levada a sério. Xavier era o meio mais respeitado do Brasil, uma posição de grande autoridade moral em um país onde cerca de 20 milhões de pessoas acreditam em espiritismo – um tipo de catolicismo baseado na comunicação telepática com almas dos mortos. O Brasil possui a maior população espírita do mundo e, em uma carreira de 75 anos, Xavier se tornou sua figura mais importante.

As informações que ele comunicava do além-túmulo eram frequentemente consideradas fatos. Certa vez, em 1979, um homem acusado de assassinar seu melhor amigo foi libertado porque o juiz aceitou uma declaração de testemunha do amigo morto que ele havia comunicado telepaticamente via Xavier. A vítima, disse seu amigo, era inocente; ele continuou a revelar a identidade do verdadeiro assassino.

Xavier nasceu em uma família pobre de nove irmãos e irmãs, nos subúrbios de Belo Horizonte. Aos quatro anos, ele estava ouvindo vozes e tendo visões. Sua família achou que ele estava possuído pelo diabo, e o padre local ordenou que ele dissesse mil Ave-Marias e pagasse uma penitência adicional ao andar com uma pedra de 15 kg na cabeça.

Mas as vozes continuaram e, quando adolescente, Xavier começou a estudar os ensinamentos de Allan Kardec, francês cujas idéias espíritas já haviam se firmado no Brasil. Xavier dedicou sua vida a usar sua aptidão como um meio para trazer conforto ao maior número de pessoas possível.

Embora mal educado, ele publicou mais de 400 livros – os espíritos de pessoas mortas ditavam os textos para ele telepaticamente. Poesia do Além do Túmulo (1932), por exemplo, continha 259 poemas revelados a Xavier por 56 poetas brasileiros mortos, incluindo alguns famosos.

Várias pessoas tentaram provar que ele era uma fraude, mas ninguém conseguiu. A viúva de um dos poetas até tentou processá-lo por royalties, mas o tribunal decidiu a favor de Xavier, julgando que “o [poeta] está morto e os mortos não têm direitos”.

A palavra final sobre o assunto foi dada pelo jornal intelectual Estado de São Paulo. Observou que, se os poemas não foram realmente escritos pelos poetas mortos, então, pelo menos, Xavier deveria estar sentado na academia brasileira de letras.

Embora o conteúdo da maioria de seus outros livros fosse religioso, Xavier também transcreveu dos romances do mundo espiritual e obras de filosofia e ciência. Seus livros venderam cerca de 25 milhões de cópias, cujos lucros foram todos canalizados para obras de caridade. Como especialista em impressões digitais do Ministério da Agricultura do Brasil, Xavier vivia com poucos salários antes de receber sua pensão do estado.

Em 1959, mudou-se para a cidade de Uberaba, onde realizou sessões públicas de telepatia. Sua casa se tornou um local de peregrinação, e centenas de milhares de brasileiros o visitaram, na esperança de falar com alguém do mundo espiritual. As celebridades costumavam aparecer para ver o médium, que sempre parecia distinto, com óculos de lentes grossas e um boné. Ele nunca cobrou por participar do público. Em 1981 e 1982, ele foi indicado ao prêmio Nobel da paz. Nos últimos anos, a saúde de Xavier começou a se deteriorar, embora ele nunca desistisse de conhecer aqueles que haviam viajado para vê-lo. Entre os que lhe prestaram homenagem estavam o presidente brasileiro e líderes religiosos islâmicos, judeus e cristãos. Nos dois dias de sua vigília, cerca de 2.500 pessoas por hora passaram pelo seu caixão.

O guia espiritual de Xavier – seu vínculo com o mundo espiritual – foi chamado Emmanuel. De acordo com os escritos do médium, nos tempos romanos Emmanuel era o senador Publius Sentulus; ele havia reencarnado na Espanha como padre Damian e, mais tarde, como professor na Sorbonne. Os espíritas acreditam que Emmanuel já está sendo reencarnado em outro brasileiro, para continuar a missão espírita.